quarta-feira, 29 de junho de 2011

Os brincos azuis

Hoje comprei um presente à minha mãe. Por acaso nem é normal, sou pouco dada a mostras de afecto patrimoniais. Mas hoje saiu-me, vi uns brincos com o nome dela escritos e não resisti.
Foi um gesto pequenino, mínimo. Consciente e banal, achava eu. Até que lhe enviei uma msg a comunicar que lhe tinha comprado um presente. Ela respondeu "Obrigada, sobretudo porque faz hoje um ano que te fiz passar um mau bocado".
Estremeci com a mensagem. Confesso que chorei. Porque faz exactamente um ano, entrei com ela no Hospital dos Capuchos de urgência, com o diagnóstico de um derrame cerebral. Ela já estava sem reacção, inanimada. E antes despediu-se de mim, disse-me onde estava o ouro (!!!) e pediu para tomar conta da mana. Enfim, um cenário dantesco. O diagnóstico estava errado, tratava-se de uma meningite linfocitária e felizmente três semanas depois já estava tudo normalizado.
Este post não é suposto ser lamechas, nem para remexer num assunto sobre o qual já fiz a catarse completa (isto pode dizer-se assim?). É apenas para constatar o facto do nosso cérebro, da nossa alma, do nosso âmago, enfim, o que quer que seja, operarem irracionalmente por nós. Foi demasiada coincidência esta minha necessidade de a mimar, logo hoje. Destino? Não sei. Só acho que há certas ligações viscerais na nossa vida, tão fortes, tão palpáveis que nos levam a episódios destes. É o sangue a chamar talvez. E é o gostar, aquele gostar tão imenso que sentimos o outro debaixo da nossa pele, a latejar nas veias, a encher-nos a vida.
Que bom continuar a comprar brincos para ti mãe. Azuis. E amarelos, e verdes, e de todas cores. Temos todo o tempo do Mundo.

P.S. Já é a segunda vez que escrevo sobre ela, espero que um certo senhor que habita por casa não se sinta lesado. Escrevo por ímpeto, já sabes papi. Um dias destes certamente ele trará o teu nome.

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